Obra Bandeira.2010. Carolina Velasquez e Flavio Aquistapace.
Acredito na palavra como agente introdutor da fruição artística, acredito no corpo como aquele que vê a arte antes do olhar e na ação do artista junto de uma comunidade como arte!
Oficinas de criação de Bonecos no Festival Baixo Centro em São Paulo.2012
Segue um artigo que reflete minha participação no Festival Baixo Centro, que tem por objetivo aproximar do grande público a área do Centro de São Paulo, através da arte e suas ações.
A arte e sua utilidade ou Entrei no quintal do público ontem
O título é bem provocador, mas não sou uma dessas pessoas que insulta as questões trazidas pela arte contemporânea sem antes vivê-las e, principalmente, respeitá-las.
Mas nesses ultimos dias, tive uma surpresa, num daqueles lapsos
de coragem que todos temos de vez em quando, inscrevi uma proposta de oficina
para o Festival Baixo Centro e me colocaram para dar uma oficina na avenida São
João; acostumada como estava a espaços públicos superintitucionais, fui com a
minha armadura costumeira, protegida do público, como pensava, para mais um
evento onde passaria a técnica e o conhecimento de uma militante da arte e da
sabedoria.
Caminhei, caminhei, caminhei e nunca chegava, de árvores, a
paisagem mudou para prédios e depois mendigos, de tinta para fuligem, de
certeza para centro de São Paulo, mais precisamente na República.
Na porta uma
menininha com uma aparente responsabilidade, que a tornava estranha à primeira
vista, quase uma mulher, me perguntou quem eu procurava; depois das
apresentações, fui conduzida para os andares de cima do grande labirinto que
era aquele prédio visivelmente abondanado pelas leis da verba pública e das
aparências de nossas classes A e B; fui apresentada ao misto de sede cultural e
sede política de um movimento de ocupação. Quatro garotinhas nos acompanhavam
agora, com os mesmo ares de responsabilidade, eu ia desmoronando a minha carapaça a medida que andava por
aqueles corredores e chegavamos à uma sala onde seria a atividade,: “a crianças
estão chegando da escola”,ouvi, e a medida que iam chegando, meus planos fixos
de construção de um boneco mítico em gupo iam abaixo.
Pra quê? Eu pensava...do que elas precisam? Me entendam, por
favor, também não sou daquelas mulherzinhas que tomadas por uma indignação
inata querem savar o mundo em dois segundos, mas o pra quê era uma importante
pergunta sobre: a arte! Pra quê? Onde cabe aqui? Onde encaixo?
E meu roteiro ia se diluindo para se reestruturar , enquanto
isso olhinhos brilhantes me fitavam, as mais velhas procuravam disfarçar uma
expectativa que se inflava e ocultava, tal como acontece com as pessoas que já
passaram por algumas repressões da vida, este controle das emoções ficou muito
nítido durante todo o tempo da atividade e foi o que me incentivou a dar o
primeiro passo em meu novo roteiro de propostas...
Consumo? Produto? Dinheiro? O que elas desejam? O que eu tenho?
Feltro. Carinho. Técnica. Material. Decidi pelo produto pronto e pelo objetivo
da vida, gerar autonomia e com isso confiança e com isso liberdade e com isso
vida.
Arte pra quê? Parafraseando o título e dúvida da escritora,
crítica e curadora Aracy Amaral, resolvi ensinar as crianças a técnica da
construçao de bonecos em todas as etapas, através de um coração, pequeno e
muito vermelho, tamanha não foi a alegria dos olhos que me acompanhavam quando
viram a possibilidade da produção de um objeto feito em cinco minutos e que
este mesmo objeto poderia ser ofertado a algum familiar como um gesto de
carinho, gratidão ou prova de importância de existência geradora de sentimento,
mercadoria e dinheiro no mundo, naquele mundo, naquele prédio abandonado pelo
mundo externo e acolhido por aquela comunidade.
A seguir, cada criança foi
escolhendo o seu tema e construindo o seu boneco, a cada produto que
ficava pronto uma espirrada de aromatizante alecrim de minha adorável amiga e
colega Simone Donatelli que um dia disse: se macunaíma não nasceu para ser
pedra, eu não nasci para ser poste. Explico: poste de informações, de uma via
só, de só uma vida que as vezes nós educadores somos impelidos a quedar, no
espaço expositivo a espera daqueles que nos necessitam e necessitamos, mas que
não atingimos, parados como estamos em meio ao espaço institucional esperando,
esperando....
Borboletas, corações com mensagens ternas, ossos, carros,
flores, foram construídos com carinho naquele dia, me traí em meu ideal de
produzir arte pura e e levada. O que é arte elevada? O que é arte? Para que
serve? Senão para isto? Reformulo: para que serve o artista hoje? Era para
aquilo que eu estava fazendo, fazer, promover um tempo espaço onde o fazer é
puro prazer e não é classificável e sim degustado com sorrisos e orgulho de
suas próprias mãos e idéias.
Ainda não cheguei perto das respostas, mas saí de lá aquela
noite com a certeza de tê-las vivido e compartilho aqui meus sentimentos para
não esquecê-los
Carolina Velasquez
Exposição EM NOME DOS ARTISTAS. Fundação Bienal.2011.São Paulo
Educadores grupo01 e supervisora C.Velasquez |
Atividade Lúdica executada por Gui Teixeira |
Cada grupo tem o seu supervisor, este tem a função de acompanhar pessoalmente cada integrante e promover atividades que desenvolvam a percepção sobre o olhar do outro, no caso, o público e sobre si mesmo, através da arte e o que ela representa e/ou discute.O supervisor, na maioria das vezes, é um educador mais experiente que antevê processos e questões que o educador mais novo apresenta;
Atividade Câmera escura.Criz Muniz e C.Velasquez |
para instigar perguntas e debates por parte da equipe de educadores, o supervisor executa dinâmicas e atividades que abordam Tipos de público em um espaço expositivo, leitura de uma obra de arte, história da arte, biografia de artistas, percepção do próprio corpo na obra, no espaço expositivo , diante e com o público.
Durante atividade da Camera escura |
Fui supervisora, durante o treinamento,de duas equipes bárbaras, uma em junho e outra em agosto/setembro de 2011. A foto ao lado foi tirada depois da visita inaugural com exposição recém aberta, onde o supervisor dá a visita a um grupo de professores, em frente ao grupo de educadores que treinou.
Quando inaugurada a exposição, os supervisores continuam a formação,
desta vez acompanhando os atendimentos de cada educador e dando devolutivas de ua performance junto ao grupo, analisando conteúdo sobre as obras, história da arte, metodologia de leitura de obra utilizada e percepção do outro, mediar a obra para o público sem perder de vista, as necessidades que esse mesmo público traz.
Ao Lado série de fotos, registro de atividade feita para o treinamento da equipe de educadores da Exposição Beuys-A revolução somos nós, 2010 no SESC Pompéia.Concepção da Atividade: Carolina Velasquez e Simone Donatelli. Curadoria Educativa: Valquíria Prates.
Descrição da Atividade
Série de exercícios corporais com o objetivo do desenvolvimento da percepção do educador sobre seu corpo, seus gestos e suas escolhas.
Na segunda etapa das atividades realizamos uma vivência que permitiu a relação de cada educador com um objeto e na possibilidade da ausência da função comum daquele objeto para a exploração do mesmo como matéria, inesgotável de possibilidade mediante a pessoa que o manusei e o contém; os resultados formaram base para a construção de uma série de performances apresentadas pelos educadores em grupos. Tudo à moda da Pedagogia Antroposófica e à moda de Beuys.
Exposição Hélio Oiticica- Museu é o mundo. Instituto Itaú Cultural.2010
Educadoras Malu andrade e Simone Donatelli |
Esta característica incentivou o tom da proposta exposta nas fotos ao lado:
Proporcionar uma vivência, regada à música brasileira ( samba enredo/ tropicália/etc), onde cada educador pudesse sentir a energia pela qual Hélio Oiticica se apaixonou em sua jornada
pelo universo da escola de samba, da música e dança brasileira;
Festança Azeite de Leos, Leandro Caetano, Diana Tubenchlak |
toda essa movimentação que invade a alma e culmina na consequente pesquisa do artista e seus resultados plásticos. A atividade ilustrou e fundamentou semanas intensas de treinamento teórico e proporcionou um clima de descontração entre os integrantes, clima este que com certeza incentivou as propostas maravilhosas que surgiram desta equipe experiente durante a visitação do público. Nesta equipe de supervisão estavam Antonio Mello Neto e Luciana Rocha.Grandes parceiros.
Educadora Caroline Rodrigues |
Educador Gilberto Vieira |